Cidades Pandemia

Com as escolas fechadas, mães solo baianas lutam para seguir no mercado de trabalho

Com as crianças em casa na pandemia, as mães solo tentam ajustar a rotina profissional com a doméstica. Baianas relatam dificuldades na adaptação.

Por Márcia Santana

24/06/2020 às 14:56:12 - Atualizado há
Foto: arquivo pessoal


Em março, as aulas presenciais das escolas públicas e privadas do estado foram suspensas. Durante quase três meses, as mães baianas fazem o possível para conciliar os serviços domésticos, a carreira profissional, sem deixar de dar atenção aos pequenos, que estão em casa em tempo integral e cheios de energia.


De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2015 as mães solo representavam 14,9% das famílias baianas, somando 793 mil famílias. Este é o caso da baiana de acarajé Elaine Michele Assis Cruz, 38 anos, mãe da pequena Odara Vitória.

Na produção e comercialização dos quitutes, a baiana se mantém ocupada por mais nove horas, mas ela divide o tempo entre o trabalho e a pequena Odara, que está fora da escola devido ao isolamento social. "Tem sido desafiador, principalmente por que estou sem babá. Odara tem muita energia, já acorda no pique total", contou Elaine, que busca fazer atividades com a filha e tem que levá-la durante as ações profissionais. Ela revela que fica triste e com medo da exposição.

A baiana de acarajé Elaine Cruz passou a levar a pequena Odara para a vinda dos bolinhos


Para a empreendedora, nesse momento é importante manter o equilíbrio e resiliência. "Tem dias que não é fácil, mas não me permito fraquejar na frente dela. Sou o exemplo e preciso ser forte", contou Elaine.

A cantora Amanda Carvalho Contreiras,24, divide o tempo entre a música, a gerência de uma loja de artigos infantis e Ricardo Contreiras Kraychete, um garotinho de 2 anos. Este seria o primeiro ano do filho em uma creche-escola, porém as aulas tiveram que ser interrompidas e Ricardo voltou a ficar por tempo integral em casa. Para dar conta, Amanda recorre a uma rede de apoio familiar. "Ele fica com uma tia que mora com a gente", contou.

A jovem acabou de ser promovida na loja onde atua. Com o quadro profissional reduzido tem trabalhado ainda mais, mesmo com horário especial.. A cantora revelou que faz questão de dar muita atenção ao filho ainda que esteja exausta. "Morro de saudades dele. Chego em casa e ele gruda. Ele é minha sombra e uma criança muito ativa, que precisa de muita atenção", contou.

A psicóloga Vanessa Correia Prudente, MBA em comportamento organizacional e especializada em psicoterapia sistêmica, realiza atendimentos às famílias e casais. Para ela a pandemia traz dificuldades, mas também uma oportunidade para as famílias estarem mais próximas e se conectarem. "Os pais têm a chance de acompanharem o crescimento dos filhos", argumentou e completou que, nesse momento, as famílias podem e devem contar com a rede de apoio, pensar em possibilidades de conexão.


Especialista sugere que momento seja aproveitado para reforçar laços familiares

A profissional revela que a angústia relatada pelas mães é inevitável no contexto da pandemia, pois as pessoas pensam no risco de contaminarem seus entes queridos, mas é necessário encontrar formas de lidar com ela. "A gente tem o hábito de sentir e minimizar, achar que todo mundo está passando pela mesma coisa, mas é preciso falar sobre isso. Buscar a rede de apoio ou a ajuda de um profissional para nos ajudar a passar por isso da forma mais doce possível, por que o amargor é inevitável", contou.


Maternidade solo


Seja por escolha ou pelas circunstâncias, as mulheres que decidem ser mães solo têm coragem para enfrentar as dificuldades da rotina, agora ampliadas pela pandemia.

Amanda engravidou de Ricardo durante um relacionamento abusivo. Mesmo contra a vontade do companheiro, decidiu ser mãe e encontrou no filho, na época com apenas oito meses, a força para sair da relação. "Esperei meu primeiro salário e mudei no dia seguinte, sem carreto nem nada", contou a cantora.

A gravidez de Odara não foi planejada, mas Elaine não se arrepende de sua escolha. Hoje ela vivencia a experiência de forma completa. "Tem sido um desafio. O horário da aula online é exatamente no horário do meu trabalho. Com isso tenho que adaptar minha rotina de trabalho com os estudos dela para acompanhar as aulas. Fazemos brincadeiras, revisão dos assuntos, vemos vídeos. Tudo pra manter o foco nos estudos", detalhou.

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