Geral Racismo

Após críticas de internautas, Bombril retira produto do site

Marca relançou esponja de aço nomeada 'Krespinha', para limpeza pesada, produzida pela empresa.

Por Márcia Santana

17/06/2020 às 14:58:02 - Atualizado há
Divulgação

A #Bombrilracista movimentou as redes sociais, na manhã desta quarta-feira (17). Após o relançamento da esponja de aço 'Krespinha', para limpeza pesada, produzida pela empresa, internautas e especialistas apontam o racismo estrutural presente na campanha. No site oficial da Bombril, a esponja não é exibida.


Nas redes oficiais e na página da empresa, no espaço o produto não está disponível, mas os internautas resgataram a embalagem original, lançada em 1952, onde uma criança negra segura a esponja. Agora a 'Krespinha' vem em um embrulho azul com as seguintes inscrições: 'Esponja Inox Krespinha, limpeza pesada'.


A coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade Federal da Bahia (Ufba), professora Jamile Borges da Silva, acredita que a campanha retrata o racismo estrutural e sistêmico presente na sociedade. "No caso do Bombril, revela uma face cruel da sociedade que é a ausência da representatividade. Nós não temos negros e negras nos espaços de poder, nos circuitos midiáticos e publicitários, embora tenhamos publicitários, roteiristas e escritores negros. A prova disso é que ainda temos empresas e agências que insistem em fazer esse tipo de associação entre o que é da ordem da limpeza, do subemprego à população negra", alertou.

A professora Jamile Borges da Silva acredita que a campanha retrata o racismo estrutural e sistêmico presente na sociedade

A digital influencer e jornalista, Mariana Andrade, passou recentemente pela transição capilar, um processo de recuperação do cabelo original após anos de alisamentos contínuos. Em suas páginas, ela ajuda mais mulheres pretas a resgatarem a forma dos cabelos crespos e cacheados. "Já têm muitas décadas que isso vem sendo, debatido, resiguinificado e mesmo assim temos pessoas, equipes, empresas que reforçam o racismo em suas falas, em publicidades. Isso torna muito cansativa a nossa luta, deslegitima tudo que construímos até aqui. Isso já foi muito usado para ofender quem tem o cabelo crespo, quem é negro. Cabelo de Bombril? Quantas pessoas já não passaram por este preconceito nas escolas, na própria família, por já nascer e conviver em uma estrutura racista", argumentou.

Jornalista passou por transição capilar e ajuda outras jovens negras no processo de aceitação e valorização do cabelo crespo

A atriz Zezé Motta também se manifestou. "O mundo vem se tocando e passa por um processo de conscientização com as nossas crianças para compreender a beleza da nossa raça, nisso vem a empresa @bombriloficial transparecer o racismo estrutural existente. Respeito, por favor! Sera que a equipe de publicidade e marketing em desenvolvimento de produtos desta marca ainda na?o conseguiu se ajustar?", publicou.

Atriz Zeze Motta também usou as redes sociais para se manifestar contra o produto e a empresa.

Jamile lembra que campanhas como está tem um forte impacto na construção da autoestima das mulheres. "Revela como ainda sofremos os efeitos da padronização", reforçou. Para a professora, a comercialização da marca retrata o longo caminho a ser percorrido no combate ao racismo no Brasil.


A Bombril foi procurada pela reportagem do G7 Bahia, mas ainda não se manifestou.

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