Entretenimento Prata da Casa

Cantor soteropolitano retrata amor entre negros em álbum recém lançado

Alê Santana é o primeiro entrevistado de "Prata da Casa", série do G7 Bahia que vai apresentar artistas da cena musical da Bahia.

Por Fabio Ribeiro

03/10/2020 às 08:44:58 - Atualizado há
Foto: Acervo Pessoal/Alê Santana

O cantor baiano, Alê Santana, 35 anos, nascido na Liberdade - um dos bairros mais populoso de Salvador e considerado pelo Ministério da Cultura como o território nacional da cultura afro-brasileira - é o primeiro entrevistado da série "Prata da Casa" do G7 Bahia.

O artista soteropolitano contou detalhes sobre suas origens, o conceito do álbum "Afrocentado" e a importância da música como ferramenta de transformação. Tudo começou ainda quando tinha oito anos e se reunia com amigos para imitar a performance dos cantores do Olodum.

"Meu pai sempre gostou muito de ouvir disco de vinil e isso me influenciou também. Ele tinha a coletânea toda da Aquarela Brasileira, de Emílio Santiago, os discos de Edson Gomes, Lazzo, Novos Baianos e todas as bandas que surgiam no movimento do axé music, como Reflexu"s, Banda Mel e Chiclete com Banana. A música já me levou a lugares muito legais e me fez conhecer pessoas especiais, que são fundamentais na minha vida",lembra.

Sobre o novo trabalho, o álbum "Afrocentrado", que conta com sete faixas, Alê trata de diversas temáticas que envolvem a relação afetiva das pessoas negras. "Li alguns artigos sobre a questão do amor afrocentrado e sobre o aquilombamento da população negra e isso me fez criar o projeto." Com a parceria de Marcelo Santana, da Aquahertz Beats, que fez a produção musical, juntou elementos bem baianos com a batida eletrônica. Reuniu semba, kuduro, afrobeat, samba de roda, samba-reggae.

Foto: Acervo Pessoal/Alê Santana

Carreira e vida pessoal

Com formação em Rádio e TV e Jornalismo, Alê atua na área há alguns anos e sempre deu um jeitinho de conciliar a formação com a música. "São duas áreas em que os dias não se repetem, sempre tem coisa nova. Acho que eu gosto disso um pouco. Mas a música é a minha paixão, meu grande amor", comenta.

Casado com Thaís Paixão, publicitária e instrutora de yoga, o músico diz que ter uma companheira negra em uma sociedade racista é difícil. "A gente já sofreu discriminação em um cinema, já fomos colocados pra entrar pela entrada de serviço em uma festa num condomínio de luxo. Esse tipo de situação. Mas a gente sempre se coloca. O Afroamor é também fruto dessa experiência do meu relacionamento", frisa o artista.

Confira um das canções do novo álbum


Por muitos anos, o artista foi vocalista do grupo Balansoul e, em trabalho solo, lançou o DVD "Boas Novas", em 2014, o álbum promocional "Soul & Violão", em 2017, no qual interpretava grandes sucessos da música preta brasileira. Além disso, também participou dos festivais de música de blocos afro como Olodum e Ilê Aiyê, dos quais já foi finalista.

A experiência com a arte foi significante na vida do soteropolitano, que pretende passar o gosto pela música adiante, quando tiver um filho."Vou incentivar ele a ter o contato com a arte, porque é algo valioso para a formação humana", defende.

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O representa para você nascer num bairro de identidade cultural tão grande como a Liberdade?

AS- Ave Maria! Compus uma música com um amigo meu que diz assim: "Eu sou mais um preto da Liberdade, filho da dor e da alegria". E é bem isso que eu sou. Conheço praticamente todas as dores e sabores de ser um cara nascido e criado em bairro popular. A minha vivência na Linha 8, na Lapinha, no Sieiro, no bairro do Curuzu, é o que me trouxe visões que jamais teria se morasse em outro lugar. Quando iria ver as bandas de pagode no Pero Vaz, na Central, no Curuzu, eu acabei descobrindo o potencial cultural do meu bairro. A primeira vez que escutei o Ilê Aiyê me senti inteiramente representando como uma pessoa negra, as letras me tocaram e eu passei a ficar próximo da cultura afro.

No seu ponto de vista, porque os cantores negros oriundos de periferias não têm muita visibilidade ?

AS- Porque o olhar racista ainda impera. Falando na Bahia, por exemplo, houve um corte total dos artistas negros dos grandes palcos. As bandas que deram início à axé music e que eram comandadas por cantores negros foram tiradas de cena e ficaram apenas os brancos. Já fizeram essa pergunta e ninguém conseguiu responder ainda: porque Margareth Menezes não tem o mesmo prestígio midiático das outras grandes cantoras da axé music? Eu mesmo passei por umas situações esquisitas, cantava numa banda de black music e algumas pessoas achavam que a gente tinha que ser banda de pagode ou de qualquer outra coisa, porque foi colocado como espelho pra gente que preto na Bahia só podia cantar samba-reggae ou pagodão. Nada contra esses estilos, muito pelo contrário, mas a gente tem potencial e capacidade fazer qualquer som, de qualquer jeito.

Quem são seus principais ídolos e qual foi o primeiro instrumento que aprendeu a tocar?

AS- Eu não sou muito ficar idolatrando ninguém, principalmente quem eu não conheço como pessoa, mas sou muito fã do trabalho de artistas como Djavan, Lazzo, Carlinhos Brown, Jau, Edson Gomes e tenho me dedicado a ouvir muita coisa de língua portuguesa de outros países nos últimos anos, principalmente artistas de Portugal, Angola e Cabo Verde.

Qual legado como cantor você quer deixar para a sociedade?

AS- Quero deixar uma obra que dialogue com as pessoas, que reflita mensagens positivas. Algo com identidade na relação as minhas origens.

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