Entretenimento Arte

Conheça a arte de Zoy, grafiteiro que deixa sua marca nos muros de Salvador

Dono de figuras como o Zonkey, o artista de Pernambués contou um pouco sobre preconceito, arte e comunidade.

Por Rafael Rodrigues

01/08/2020 às 09:35:45 - Atualizado há
Foto: Rafael Rodrigues

Muitos podem nunca ter reparado, mas algum dia se depararam com alguns dos desenhos do grafiteiro Érick de Almeida Carvalho Alves, o "Zoy", 22 anos. Em um bate-papo com o G7 Bahia, enquanto deixava a sua marca em um dos muros do largo da Santa Clara, em Pernambués, o artista conta um pouco das suas experiências com o grafitti e a inserção na cena do hiphop baiano.

Nascido na comunidade da Baixa do Manu, outra localidade do bairro e integrante do "Crew" - nome dado à um coletivo que reúne artistas de diversos seguimentos da cultura hiphop - intitulado "Tropikaos", Érick conta que o apelido "Zoy" veio das diversas vezes que sofreu bullying quando criança, por conta do seu estrabismo.

"No início não enxergava como uma prática discriminatória, mas a partir do momento em que comecei a me colocar politicamente, me reconhecer como preto inserido numa sociedade preconceituosa e a incluir a cultura hiphop em minha vida, entendi que aquilo era errado. Então peguei tudo aquilo que um dia me fez mal e simplesmente transformei em arte", contou.

Artista fez uma imagem especial para o G7 Bahia, durante entrevista

Prestes a ser papai, o artista conta que, desde pequeno, acompanhava desenhos como o brasileiro "A turma da Mônica", de Maurício de Souza, até animes japoneses como Dragon Ball Z e Pokémon. Foram essas inspirações que o levaram a criar o "Zonkey", personagem meio homem, meio macaco, construído a partir uma crítica política e social acerca do preconceito racial vivido por ele.

"No início houve a dificuldade da minha família em aceitar que essa era a minha forma de expressão. Mas não desisti. Enfrentei preconceitos, violência policial e os riscos que a minha arte oferece, mas sigo sobrevivendo", disse, lembrando que ainda não vive financeiramente da sua arte, mas as experiências do período que estudou Publicidade e Propaganda o ajudam a fazer alguns trabalhos com arte gráfica.

Deixando sua marca em alguns muros de Salvador há quatro anos, utilizando o "Bomb Style" - pichações mais rápidas, com letras gordinhas - o pintor explica que o momento em que sentiu o seu trabalho reconhecido foi quando venceu um concurso que o levou até Sergipe para modificar a estética da comunidade de Santa Maria, em Aracaju, e dividiu latinhas de spray com artistas do Brasil inteiro.

"Foi um momento inesquecível. Acredito que precisamos de eventos como esses para que possamos ser inseridos no mercado pois ainda temos pouco espaço, o que acaba tornando nossa arte marginalizada", contou, dizendo que, em além de Pernambués, já pintou muros em comunidades com as da Gamboa, Pirajá e Tancredo Neves.


Grafitti transformou vidas em Pernambués


Juntamente com os amigos do "Coletivo HipHop Pernambués", Zoy realizava quinzenalmente, antes da pandemia da Covid-19 (novo Coronavírus), a "Batalha da Santa Clara" que reunia pessoas para declamar poesias, dar aulas de arte, ajudar com a geladeira comunitária que arrecada livros didáticos para participar das batalhas de rima, sucesso na comunidade.

"Tudo acabava com uma grande feijoada que fazíamos questão de preparar. Além disso, arrecadávamos dinheiro e alimento para os artistas de rua que não contavam com o apoio de nenhuma política pública", declarou.

O artista ainda concluiu explicando que após a pandemia os eventos serão retomados.

Comunicar erro

Comentários Comunicar erro

G7 Bahia

© 2024 Todos os direitos reservados - G7Bahia
www.g7bahia.com.br

•   Política de Cookies •   Política de Privacidade    •   Contato   •

G7 Bahia