Saúde COVID-19

Mulher morre após ser submetida a teste clandestino com cloroquina dias depois de dar à luz; médica é demitida

Pelo menos outras quatro pessoas morreram, incluindo um bebê prematuro

Por Rachel Mercês

15/04/2021 às 10:50:45 - Atualizado há
(Foto: Reprodução)

A paciente Jucicleia de Sousa Lira, de 33 anos, morreu após ser submetida a um teste clandestino realizado no Instituto da Mulher e Maternidade Dona Lindu (IMDL), hospital público estadual em Manaus. A mulher, que havia realizado um parto de emergência dias antes, estava na Unidade de Terapia Intensiva se tratando de um quadro grave por infecção de Covid-19. Por recomendação da médica Michelle Chechter, ela foi tratada com nebulização de hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra o coronavírus.

O marido de Jucicleia, Cleisson Oliveira da Silva, de 30 anos, cuidava do filho recém-nascido quando recebeu um vídeo da irmã, por WhatsApp, em que Jucicleia aparecia sorridente durante uma sessão de nebulização de hidroxicloroquina. Foi dessa forma que ele descobriu que sua esposa realizava o tratamento ineficaz, já que não havia sido consultado sobre a nebulização nem sobre a realização do vídeo. O conteúdo chegou a ser compartilhado por Onyx Lorenzoni, ministro de Bolsonaro, e por outros membros do alto escalão do governo.

Jucicleia de Sousa Lira e Dra Michelle Chechter. (Foto: Reprodução)


O tratamento agravou ainda mais a saúde da paciente, que veio à óbito em 2 de março, 27 dias após o nascimento do filho único. O hospital informou à família que a causa da morte foi uma infecção generalizada em decorrência da COVID-19.


Mais mortes


Outras três pacientes receberam nebulização sem antes terem autorizado o procedimento. Todas morreram. Uma delas teria sido Ingrid Chaves, de 32 anos, que estava grávida de cinco meses. A paciente deu entrada no IMDL em 10 de fevereiro. Na manhã seguinte, Michelle teria ministrado hidroxicloroquina à paciente, segundo uma familiar da vítima em entrevista anônima à Folha de S. Paulo

A médica teria entregue os comprimidos nas mãos desta familiar, a orientando a dar pessoalmente a hidroxicloroquina, sob alegação de que outros médicos poderiam retirá-la do prontuário. Chechter ainda disse que a substância tinha o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que, por causa disso, sofria oposição política. Nesse mesmo dia, Ingrid entrou na UTI e cerca de duas semanas depois, veio a óbito. Os médicos fizeram uma cesárea de emergência, mas o bebê prematuro veio a óbito em 3 de março.


Michelle Chechter


A médica ginecologista Michelle Chechter, natural de São Paulo, foi contratada pelo IMDL em 3 de fevereiro, sob regime temporário. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas, outros 2,3 mil profissionais de saúde integraram a equipe via banco de recursos humanos disponibilizados ao Estado pelo Ministério da Saúde. Dentre eles, o marido de Michelle, o médico Gustavo Maximiliano Dutra, também foi contratado.

Foto: Reprodução/ Twitter

A Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas demitiu a médica e a investiga por conduta inapropriada. Em nota, a pasta afirmou que o tratamento não faz parte dos protocolos terapêuticos do Instituto Dona Lindu nem de outra unidade da rede estadual de saúde, ainda que com o consentimento de pacientes ou de seus familiares.

" O procedimento tratou-se de um ato médico, de livre iniciativa da profissional, que não faz mais parte do quadro da maternidade, onde atuou por cinco dias".

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