A alta comissĂĄria da Organização das Nações Unidas para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, criticou, ontem, o crescente envolvimento de representantes das Forças Armadas ou das polĂcias militares na gestão pĂșblica no Brasil, nos trĂȘs nĂveis de governo. No primeiro dia do Conselho de Direitos Humanos da ONU, ela salientou que essa tendĂȘncia na América Latina pode ser vista também no México e em El Salvador.
O governo de Jair Bolsonaro tem, atualmente, oito ministros militares ou com formação militar. E de acordo com levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU), aproximadamente 2,8 mil cargos comissionados do governo federal estão ocupados por militares ou policiais militares, tal como o Ministério da SaĂșde –– no qual o general Eduardo Pazuello serĂĄ confirmado ministro, nos próximos dias, depois de meses de interinidade à frente da pasta. Nesse cĂĄlculo não entram as secretarias de segurança em estados, no Distrito Federal e em municĂpios ocupadas por militares e PMs.
Bachelet ainda denunciou os crescentes relatórios de aumento da violĂȘncia no campo, ataques a jornalistas e defensores de direitos humanos, além da diminuição dos espaços para consulta da sociedade civil e de comunidades para tomada de decisões. Ela acrescentou que, na América Latina, um "nĂșmero alarmante" de ativistas e repórteres continuam a ser "intimidados, atacados e mortos", sobretudo aqueles envolvidos com temas como meio ambiente e direito à terra.
"No Brasil, estamos recebendo relatórios de violĂȘncia rural e expulsão de comunidades sem-terra, assim como ataques a defensores de direitos humanos e jornalistas, com ao menos 10 mortes este ano. A continuada erosão de conselhos independentes de consultas e participação das comunidades é também preocupante. Apelo às autoridades para que tomem medidas firmes que garantam decisões fundamentadas nas contribuições e necessidades do povo brasileiro", exortou.
Para rebatĂȘ-la, a representante brasileira no Conselho, a embaixadora Maria Nazareth Farani de AzevĂȘdo, salientou as ações econômicas do governo federal contra a covid-19, observando que tem garantido o acesso à saĂșde para 211 milhões de pessoas e que os pacotes emergenciais relacionados à pandemia jĂĄ consumiram US$ 106 bilhões de recursos da União. Ela também destacou que o nĂșmero de casos do novo coronavĂrus vem caindo no paĂs, apesar das mais de 130 mil mortes por conta do vĂrus — no Ășltimo domingo, o paĂs se tornou a nação do G-20 com o maior coeficiente de mortalidade pelo novo coronavĂrus, com 613,46 mortes por milhão de habitantes, de acordo com os dados da Organização Mundial da SaĂșde (OMS).
Discurso na ONU
A ONU abre, hoje, a 75ÂȘ Assembleia Geral entre chefes de Estado e de governo, e a tendĂȘncia é de um ambiente hostil para Jair Bolsonaro. A previsão é de que o presidente discurse na abertura da sessão, dia 22, uma semana após a solenidade de abertura do evento. Por conta da pandemia, ele e outros lĂderes participarão do evento por videoconferĂȘncia.
Bolsonaro deve enfatizar que o governo federal criou uma grande camada de proteção social com o auxĂlio emergencial, que, na visão do PalĂĄcio do Planalto, impediu a economia brasileira de ser ainda mais fragilizada por conta do surto do novo coronavĂrus. Outro trecho do discurso do presidente focarĂĄ na resposta às crĂticas que o governo tem sofrido por conta dos Ăndices de queimadas na Amazônia e no Pantanal.
Correio Braziliense